quinta-feira, 20 de novembro de 2014

MONÓLOGO DE UM SUICIDA

E eu me pergunto todos os dias, o que eu estou fazendo aqui?
Hoje completo mais um aniversário. Para muitos é um grande dia, para mim é apenas mais um dia como outro qualquer.
Você já parou para pensar que nós somos enganados por vários anos e que após completarmos 16 ou 17 anos, passamos a perceber que nossos pais nos colocaram na maior mentira já inventada?
Meus avós tiveram 11 filhos e criam muito bem os 11 filhos trabalhando de sol a sol nas lavouras da vida. Tanto meu pai, o famoso Dr. Luis quanto os seus outros 10 irmãos foram criados da mesma forma, com os pés no chão, correndo atrás de uma bola de couro surrada e tirando sempre a tampa do dedão. Todos são saudáveis e cheios de vida. Todos tiveram filhos. Todos disseram ao se casarem que dariam uma vida diferente da que tiveram para seus filhos e hoje estou aqui, emperrado em meio aos vários livros que, segundo o Dr. Luis, irão me dar um futuro melhor.
Não sei se o fato de não terem muito dinheiro quando eram crianças, não terem os melhores brinquedos e nem as melhores roupas levaram meus pais a projetarem tudo o que não tiveram em mim. Sou filho único e nem preciso dizer o quanto sou mimado. Tive de tudo. Os melhores brinquedos, vídeo-games, computadores, roupas. Fui para uma das melhores escolas da cidade. Pratiquei polo aquático e viajei várias e várias vezes. Fiz de um tudo nessa maravilhosa ilusão que meus pais pensam que é o melhor para mim.
Claro que eu não posso reclamar dos presentes ótimos que ganhei e nem dos lugares maravilhosos que conheci, porém os presentes sempre chegavam e eu sempre era obrigado a brincar sozinho, já que para meus pais "brincar na rua" era perigoso e não seria bom eu arrebentar meus pés jogando bola descalço na rua.
As viagens foram lindas, mas era sempre esperada a época do ano em que meus pais saiam de férias e para tentar amenizar a ausência dos outros 11 meses do ano, eles sempre me levavam para lugares lindos, mas nunca os que eu escolhia, engraçado né?
Então hoje. Exatamente hoje. No dia do meu aniversário eu decidi dar um basta nisso tudo. Chega de ser o brinquedo que meus pais não tiveram. Chega de usar as roupas que eles gostariam de ter usado e não tiveram a oportunidade. Chega de viajar para os lugares que eles sonhavam em conhecer e que eu nunca nem pensei em estar. Chega de ser o reflexo de pais frustrados com a infância "infeliz" que eles tiveram. CHEGA!!!!
Hoje eu quero ser EU.
Quero correr descalço na rua,
Quero tomar banho de chuva.
Quero brincar na calçada da vizinha,
Quero namorar a Lucinha.
Hoje eu quero ter a paz de um adolescente.
Quero rir,
Cantar,
Dançar.
Só hoje quero ser assim, EU.
Sendo assim queridos pais, hoje decidi morrer. Não quero ser o garotinho mimado, disciplinado e que irá se tornar mais um DOUTOR ocupado. Não quero também minha mãe, me tornar o empresário que irá trabalhar em turnos dobrados só para lucrar mais alguns trocados.
Não pensem que estou sendo ingrato, porque não é ingratidão. Apenas não quero ser o que vocês querem que eu seja, porque a vida é tão curta para não se dar valor ao que mais importa. A vida é curta para não se amar a simplicidade de viver com alegria espiritual, porque o material a gente perde e como perde.
Obrigado meus amados pais pelo que tentaram fazer por mim, sei que trabalharam muito para me dar o que vocês julgavam melhor, mas nesses meus 18 anos o que mais precisei foi a presença de vocês, foi poder ouvir de vocês uma palavra amiga, um conselho e até umas broncas a mais. Eu precisei de pais presentes e não de presentes dos pais.
Meu recado então é esse: não tentem transformar seus filhos naquilo que você gostaria de ter se transformado, eles não são vocês e tentar transformá-los nos seus fracassos só irá transformá-los em pessoas frustradas. Ame-os e deixe-os viver. Afinal seus filhos não são seus filhos, são filhos do mundo.
Esse será meu último gole. Talvez eu agonize um pouco, mas logo estarei do lado de lá.
Adeus. Sempre os amarei.
Eternamente.
Lucas.


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